quarta-feira, 20 de julho de 2022

Audições Obrigatórias I


Ontem cruzei-me com um amigo que lia o blog e, já não é a primeira vez, surgiu a questão: Então e o Blog?

Respondi, como ganhei o hábito de o fazer, dizendo que agora é só via facebook, já ninguém lê mais de três linhas...

Ao que a pessoa retorquiu dizendo que vinha visita-lo para receber algumas dicas de coisas que mereçam a pena ouvir.

Esta manhã, como o meu corpo ainda não sabe que estou de férias, acordei como se fosse para o trabalho e logo cedo a consciência começou a moer-me para voltar a escrever por aqui.

Cumpri o que o ritual de dia de trabalho, comida para as gatas, pequeno almoço para os humanos que vivem com elas, café e varanda. 

Como não estou a trabalhar, fui buscar um livro e comecei a pôr uma banda sonora para acompanhar. Curiosamente peguei em discos que me chegaram às mãos pelos próprios artistas e não comprados em qualquer loja mais impessoal.

O primeiro foi "Seasons", mais um grande disco do André Barros que aqui é acompanhado pela Myrra Rós, numa parceria que encanta e nos leva para paisagens distantes.

Logo depois fui até ao "Sangue Quente Sangue Frio" do Daniel Catarino, já tinha ouvido falar deste disco, mas com receio de ser mais um daqueles artistas que usam nomes de "música pimba" para, numa ironia a que não consigo achar piada, fazerem uma música da "moda" que rapidamente se torna descartável. Não podia estar mais enganado, está aqui um disco adulto que merece ser ouvido muitas vezes, até pela força das letras.

"De Pernas Para o Ar" do Daniel Pereira Cristo, foi a audição seguinte, levou-me a aquilatar da evolução deste rapaz que se está a aprimorar cada vez mais na sua forma de interpretar alguns temas tradicionais e poemas de grandes autores, apossando-se deles e transformando-os em algo muito seu.

Fui então para "Quem Sai aos Seus", o terceiro disco do amigo Aníbal Zola que chega quase a atingir momentos de perfeição, quer quando aborda o fado, quer quando se desloca mais para caminhos mais próximos do Jazz, quer ainda quando pega em sonoridades próximas do tradicional e as traz para os nossos dias, as suas letras mostram que não se preocupa apenas com a música, mas também gosta de tratar bem as palavras. 

"A Porta da Casa" dos Daguida, faz-nos andar entre a brincadeira e o assunto sério, com um disco que apesar do longo historial da banda (ainda me lembro de ouvir falar deles quando, no início dos anos 2000, ia tomar Café ao Rossini em Lamas) é "apenas" um magnífico primeiro álbum.

"Expresso Transatlântico" é nome de E.P. e nome de banda, ouvi-os na edição deste ano da Rádio Faneca e "colei" imediatamente ao seu som. Dignos herdeiros dos Dead Combo, estes rapazes conseguem pegar no testemunho e vão seguramente tornar-se um caso sério na música feita por cá que não se rende ao concurso e à "macaqueação" de "êxitos de outrora", com que constantemente somos inundados na televisão, em particular. Vou estar muito atento ao que eles vão fazer a seguir.

E pronto, eis que como uma manhã bastante "produtiva" me pôs a escrever aqui novamente e bem mais de três linhas. 

Volto em breve com mais sugestões de audições.