Uma vez um amigo Galego, contou-me uma lenda que é usada como explicação da entrada da concertina na música tradicional galega.
Não me recordo totalmente da história, mas é mais ou menos isto:
Certo dia um barco que transportava produtos de Itália para o Norte da Europa, ao enfrentar o duro mar da Costa da Morte na Galiza, acabou por naufragar e perder toda a sua carga, os despojos da carga vieram todos dar às praias e, tal como mandam as leis do mar, o que o mar traz pertence ao povo.
Desta vez na carga naufragada vinha um carregamento de concertinas que ao dar à costa e ao ritmo das marés, traziam consigo um som de respirar que chegava a ser assustador. Claro que desta vez ninguém se chegava aos despojos, aqueles sons pareciam coisas do Diabo, toda a noite o som que elas emitiam assustou todos os nativos, habituados a recolher os que o mar lhes trazia. De manhã os sons assustadores continuavam, mas uma criança, mais destemida, decidiu pegar num daqueles objectos que emitiam tal som e ver o que era, passado pouco tempo, a curiosidade infantil já estava a por aquele objecto a produzir sons bem menos assustadores. Claro que a partir daí, toda a gente perdeu o medo e acabou por ficar com uma das tais concertinas. E assim se espalharam por toda a Galiza e ainda hoje fazem parte dos sons do seu folclore.Não sei se é uma história verdadeira ou se é apenas uma lenda, o que sei é que às vezes chego a pensar que algumas dessas concertinas terão seguramente baixado até ao nosso país e passado a fazer parte da nossa história musical também.
Se isso aconteceu, provavelmente alguma delas chegou a Águeda, terra de bons tocadores de concertina e de onde surgem os
Danças Ocultas, grupo de quatro músicos que conseguiram encher a plateia do Cine Teatro de Estarreja e dar a conhecer os seus magníficos "sons de respirar".
A ocasião era a apresentação de
Tarab, último trabalho do grupo, acompanhado por uma criação multimédia da autoria de Luis Miguel Girão.
E que belo espectáculo tivemos a oportunidade de assistir, a junção do popular e tradicional com o moderno e contemporâneo. Por vezes estávamos ao ritmo de uma festa de aldeia domingueira, outras vezes eram sons de trabalho no campo e outras vezes ainda, ficávamos rodeados de ritmos intensos de cidade, em que os eléctricos e carros das imagens nos davam a ideia de estarmos em plena "hora de ponta" de uma qualquer grande cidade.
Ainda havia tempo para "diálogos" entre os instrumentos que quase pareciam vozes, certas músicas chegam a quase a parecer canções.
Eu confesso que a ideia de assistir a "uma hora e tal" de sons de concertinas e apesar de já conhecer os seus discos, me deixava com um pouco de receio de não vir a gostar. Esse receio já tinha passado antes de acabar o primeiro tema, o espectáculo que nos foi apresentado pelo Artur, pelos Filipes e pelo Francisco é, no mínimo, imperdível, eu, da minha parte espero poder voltar a ver os Danças Ocultas muito em breve.
Este é foi alinhamento de um espectáculo inesquecível: