terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
De Borla
A Primeira vez que ele veio a Portugal deve ter sido no ano de 1994 e veio a Aveiro numa Semana do Enterro. Nem uma perna partida serviu de desculpa para cancelar, ele queria mesmo fazer a Tournée portuguesa. Eu, sem dinheiro para mandar cantar um cego, queria ver o concerto. Já tinha trabalhado na organização de anteriores semanas académicas, mas, nesse ano com a troca de presidentes, eu não fazia parte. Na tarde do concerto fui oferecer-me para colaborar, havia falta de pessoal e assim consegui, fiquei a fazer de segurança na frente do palco. Lá começou o concerto, ele entrou de cadeira de rodas e não parou um momento, mesmo sentado dançava, a moça que viria a ser sua esposa vestida de enfermeira e a empurrar a cadeira. Eu, claro, praticamente só olhava para o palco, a malta que estava à minha frente portou-se sempre bem, grande concerto. Só foi pena, por estar atrás das grades de segurança, não ter ninguém para fazer um moshezinho, eheheh.
Já não oiço os seus discos com a mesma frequência, mas, principalmente nestas alturas em que os noticiários nos enchem a cabeça a falar de crise e desemprego, lembro-me sempre desta letra do Gabriel O Pensador, que, com as devidas adaptações, também serve para Portugal:
Até Quando
Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve
Você pode e você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu
Num quer dizer que você tenha que sofrer
Até quando você vai ficar usando rédea
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea
Pobre, rico ou classe média?
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ser saco de pancada?
Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente
Seu filho sem escola, seu velho tá sem dente
Você tenta ser contente, não vê que é revoltante
Você tá sem emprego e sua filha tá gestante
Você se faz de surdo, não vê que é absurdo
Você que é inocente foi preso em flagrante
É tudo flagrante
É tudo flagrante
A polícia matou o estudante
Falou que era bandido, chamou de traficante
A justiça prendeu o pé-rapado
Soltou o deputado e absolveu os PM's de Vigário
A polícia só existe pra manter você na lei
Lei do silêncio, lei do mais fraco:
Ou aceita ser um saco de pancada ou vai pro saco
A programação existe pra manter você na frente
Na frente da TV, que é pra te entreter
Que pra você não ver que programado é você
Acordo num tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar
O cara me pede diploma, num tenho diploma, num pude estudar
E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado que eu saiba falar
Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá
Consigo emprego, começo o emprego, me mato de tanto ralar
Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinar
Não peço arrego mas na hora que chego só fico no mesmo lugar
Brinquedo que o filho me pede num tenho dinheiro pra dar
Escola, esmola
Favela, cadeia
Sem terra, enterra
Sem renda, se renda. Não, não
Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro
Etiquetas:
Gabriel o Pensador
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