Encontrei na página - que todos os interessados devem visitar e tornar-se "gostadores" - Noites Ritual - Página Não Oficial uma série de opiniões e explicações sobre o nascimento destas noites emblemáticas que muito fizeram pela música portuguesa.
Uma dessas opiniões que a seguir publico é a do Ricardo Alexandre, jornalista da Antena 1 e um dos fundadores das Noites Ritual.
Achei importante divulgar esse texto aqui, pois, além de ser um excelente texto que ajuda a perceber o que são, ou eram, as Noites Ritual, serve também de grito de alerta para que elas não morram.
Sem mais delongas, aqui fica o "desabafo":
Hoje há Noites Ritual e eu não vou estar. Porque não posso. As noites Ritual existem porque antes existiu uma revista chamada Ritual, que ajudei a fundar após convite do Vitor Belém Almeida e do Jose Cruz, andava eu a passear o meu fanzine Filhos de Viriato à porta do Luís Armastrondo, na Rua dos Mercadores... Estávamos em 1989. Ao projeto corporizado pela associação Grupo Juvenil de Comunicação Social, logo se juntaram o Pedro Brinca, o Nuno Ávila, a Raquel Pinheiro e tantos outros ao longo dos vários números da revista. O Hugo Moutinho, o Fernando Dias, o Nuno Azevedo, o Nuno Galopim, o Luís Freixo, o Fausto Silva, o Ricardo Braga, o Álvaro Vieira, o Jorge Buco, o Luís do Ó, o António Almeida, o Ivar Corceiro, o Ferando Alagoa, o João Paulo Levezinho, o Jorge Buco, o Nuno Calado e tantos tantos outros.
No editorial do primeiro número, desanquei numa CMP que, à época, nada fazia quanto a apoiar a nova música portuguesa. Quase de imediato, fomos chamados à autarquia e o repto foi mais ou menos este: se têm queixas e dizem que há um vazio, apresentem propostas e façam. Bons tempos. E assim foi.
Nas primeiras edições, o catering foi na sala de jantar dos meus pais. Ainda na edição inicial, realizada na Foz, o funcionário da EDP teve que levar uma nota por baixo da mesa porque estava na hora de "despegar" e a eletricidade ainda não tinha sido ligada. Foram muitos nervos, mas chorámos e rimos por fim, porque pudemos confiar na imensa capacidade de trabalho, honestidade a toda a prova e dedicação sem limites de um homem chamado Carlos Vieira, o nosso CALV, que também assinou textos, várias vezes, nas páginas da revista.
Com os anos, cada um foi à sua vida, diminuindo em dedicação mas mantendo o amor de sempre pelo filho que demos à luz. O Carlos foi fazendo crescer as Noites Ritual, profissionalizando-as e mantendo incorruptível o espírito e o objectivo com que as foram criadas: divulgar a nova música feita em Portugal.
Pelas noites Ritual passaram bandas como os Blind Zero (a melhor sorte do mundo para vocês logo à noite meus queridos Miguel Guedes, Vasco Espinheira, Nuxo Espinheira, Pedro e todos e todas com quem vocês trabalham. Se há banda que merece esse palco para comemorar data tão especial são vocês! Recognize!), os Ornatos Violeta do Elísio Donas, Peixe, Kinorme e Manel Cruz; os Tarântula de Luís Barros e Paulo Barros; os Cães Vadios de David Pontes, Carlos Moura, Óscar Q e Guilherme Lucas; os Tennessee Boys, os Fé de Sábio, os Ecos da Cave do Zé Costa; os Bad legacy do António Sabino, os Tédio Boys (apesar do percalço da primeira vez) do Paulo Furtado ; os Bramma do Carlos Vieira; os Mão Morta do Adolfo Luxúria Canibal, e Rui Pedro; Também de Braga os Um Zero Amarelo; os Dead Combo do Tó Trips e Pedro Gonçalves; os Repórter Estrábico do Luciano Barbosa e Anselmo Canha; os Clã de Manuela Azevedo e Helder Gonçalves; os Batida, os Virgem Suta, X-Wife, Linda Martini, Mind da Gap, We Trust, Paus, Wray Gunn, Zen, Orelha Negra; The Fire, Turbo Junkie, Cosmic City Blues; Ramp, Alucina Eugénio, Clandestinos, Love & The Will, No Creative Solution; Cool Hipnoise, Cio Soon, The Flood; More República Masónica, Basement, Heavenwood; Blasted Mechanism, Primitive Reason, Superego; Ithaka, Coldfinger, The Gift; Haus en Factor, Hipnótica, Mesa, Fat Freddy, The Fingertips; Grace; Belle Chase Hotel, EZ Special; Dealema, Terrakota, The Legendary Tiger Man, Pluto; Jorge Cruz, Wordsong, Plaza; Alex Fx, Quinteto Tati, Pop Dell Arte, Balla, Mercado Negro, Slimmy, David Fonseca, DJ RIde; Sean Riley, Born a Lion, Houdini Blues; Tiago Bettencourt, Rita Red Shoes, Sam the Kid; Buraka Som Sistema, A Jigsaw, Foge Foge Bandido; Os Pontos negros, Noiserv, tantas e tantas outras bandas de norte a sul do país.
Por lá trabalharam e passaram jornalistas como o Paulo Pimenta, o Miguel Carvalho, o Luís Nuno Baila, o Amílcar Correia, o Fausto da Silva, o Leonel Castro, o André De Castro Ribeiro, a Inês Nadais, o Luís Octávio Costa, o Álvaro Costa, o António Jorge, a Ana Peixoto, o Isidro Lisboa Joana de Belém, o Marcos Cruz, o Manuel Roberto, o Fernando Veludo, a Joana França Martins , o Carlos Daniel , o Manuel Salselass, a Paula Rebelo, a Lucília Monteiro, a Cris PintoPinto, o Jorge Marmelo, o José Miguel Gaspar, a Helena Teixeira da Silva, o António Barroso, e tantas e tantos outros que agora me escapam ou que o FB não me deixa identificar (coisas de um texto já longo...)!
E tantas outras pessoas como o Alberto Castelo, o Júlio Moreira, o Pedro Kaisersousa, o Fernando, a Delfina, o Filipe Gonçalves, a Helena Carneiro, a Rosário Serôdio, a Isabel Vieira e toda a gente que o Carlos Vieira foi mobilizando ao longo dos anos, com a Culturporto e, posteriormente, com a Porto Lazer.
Em anos mais recentes, após a morte do meu "irmão" João Aguardela que, por uma razão ou outra, nunca pôde ir às Noites Ritual, tivemos uma noite memorável que jamais esquecerei com a actuação d'A Naifa (obrigado sincero ao Luis Varatojo, Sandra Baptista, Mitó Mendes, Samuel Palitos). O Carlos Vieira e eu sabemos como nos emocionámos nessa noite. O Carlos sempre adorou o João. Lotações cheias, milhares e milhares de pessoas em peregrinação, ano após ano, rumo ao Palácio. Reencontro de amigos, descoberta de novas bandas. A receita ideal para um final de Verão.
A chegada de eventos maiores em dimensão à cidade, com a natural e consequente mediatização que inebria algumas almas que descobriram na cultura e na música uma visibilidade que de outra forma nunca teriam, alteraram as regras do jogo.
Penso que mudar faz sempre bem. As crises ajudam à mudança. E é bom que as Noites Ritual mudem. Desde que seja para melhor. E também sou da opinião que meter as Noites Ritual (com menos palcos e menos atividades paralelas) no meio de um Festival do Livro é uma ideia peregrina, retirando às NR identidade e diminuindo (esperemos que não, pelas bandas que me merecem o maior respeito) capacidade de mobilização. Tenho a maior estima pelas ideias de Paulo Cunha e Silva que tanto acompanhei na Porto 2001, mas não será certamente isto aquilo que ele entendia por transversalidade...
Espero que haja bom senso no próximo ano, por parte de Rui Moreira, Paulo Cunha e Silva e de gente na autarquia com sensibilidade cultural como José Alberto Azeredo Lopes, para, com tempo, diálogo e respeito pelo legado e por quem o tem sabido conduzir, devolverem a ambição e dignidade de que um evento com a História das Noites Ritual não pode abdicar.
2015 não pode ser como 2014. Tem de ser melhor.
Os fundadores das Noites Ritual, falo por mim, mas, estou certo que os restantes não pensarão muito diferente, estarão prontos para ajudar. Boa sorte para este fim-de-semana.
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