“Pode Alguém Ser Quem Não É?” No caso de Sérgio Godinho (SG) não! Sendo um dos maiores cantautores nacionais, nunca a vulgaridade poderá ser associada à sua pessoa. Pelo que qualquer oportunidade que temos para assistir a um espectáculo de SG, será a garantia de que partilharemos momentos mágicos. E o da noite do passado sábado, iniciou-se precisamente com SG só, em palco, acompanhado, apenas pela sua guitarra a cantar este tema.
O público, que aderiu massivamente, quase esgotando, uma vez mais, a sala do Cine Teatro de Estarreja (CTE) no passado sábado, também se fez logo notar, acolhendo SG, condignamente, com uma primeira e efusiva aclamação.
Para o segundo tema, “O Primeiro Gomo da Tangerina”, SG passou a contar com a colaboração da banda (mais pequena do que o habitual), constituída apenas por três dos “Assessores”, Nuno Rafael, Miguel Fevereiro e Nuno Espírito Santo, o que tornou, desde logo evidente, o cariz mais intimista que o concerto seguiria. Curioso, continua a ser o recurso à máquina de escrever como instrumento de percussão, o qual resulta muito bem neste e noutros temas.
Conforme fez questão de realçar SG, a sua carreira está a completar agora quarenta anos, e, sabemo-lo nós, está repleta de obras de arte. Umas mais próximas do período inicial, e, também, mais reconhecidas e aclamadas pelo público, outras mais recentes, e não menos apreciadas do que as primeiras. Mas a forma de celebrar connosco estas quatro décadas de canções foi a melhor, pois deu-nos a conhecer um dos novos temas a incluir no seu próximo trabalho, que, segundo nos confidenciou no final, já nos camarins, sairá no Outono. O tema é, todavia, já nosso conhecido, pois trata-se de “Bomba Relógio”, escrito por SG para Cristina Branco, a que SG dá uma nova roupagem com a introdução de um ritmo marcado pela máquina de escrever.
Quanto àquelas canções que fazem já parte de todos nós, tivemos a história da “Etelvina”, um problema bastante actual com “Arranja-me um Emprego”, ou ainda “Com um Brilhozinho nos Olhos”, “O Charlatão”, “É Terça-Feira”, “Liberdade”, palavra que SG fez questão de realçar classificando como “o toque de uma vida”.
Com “Espectáculo” fez uma pequena homenagem à região e, em particular ao CTE, por toda uma dinâmica cultural que por aqui se tem vivido. Aproveitamos aqui para manifestar a nossa concordância com as palavras de SG, realçando todavia que para que a homenagem seja válida é necessário pensar que os eventos passados apenas servem para ser recordados e que é com o futuro que devemos contar. Por isso, esperamos que o nível de qualidade a que o CTE nos habituou ao longo dos últimos anos se mantenha, apesar de todas as dificuldades pelas quais, todos nós hoje passamos.
O fim aproximou-se num ápice e, à primeira saída de palco, o público reagiu ruidosamente, manifestando a sua disposição em partilhar mais tempo com este artista, por todos admirado. SG, de imediato regressou para reviver dois temas dos finais da década de 70: “O Primeiro Dia”, acompanhado, em coro, por todos os presentes, e “Quatro Quadras Soltas”, tema com o qual Sérgio Godinho pretendia despedir-se. No entanto, a despedida foi adiada uma vez mais, tendo regressado com um dos seus mais belos poemas, envolto numa música imortal, “A Noite Passada”.
E, como foi bem passada esta noite!
Texto e Fotos de Angelo Fernandes
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