quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Conversa com Samuel Úria - 3ª Parte

 


POLÉMICA POLÍTICA OU HÁ GENTE MUITO DISTRAÍDA...

ACDM - E agora vou meter uma “bucha”, malta que até é de esquerda e gosta de mata de direita. (risos) 
S - Malta que tolera as minhas ideias “fascistas” .
(mais Risos) 
ACDM - Não sei se queres falar sobre isso, mas como sou infoexcluído do Twitter, só soube da polémica (Nota - um texto assinado por vários pessoas de direita a demarcar-se de ideias e facções totalitárias de direita que estão a ganhar “tempo de antena” em Portugal e no resto do mundo), no programa “Preciso de Falar” das manhãs de domingo na Antena 3. 
Então aproveitei uma foto que tínhamos a fazer o “V” de vitória e até disse (ironicamente) que estávamos a festejar a vitória da AD de 1979. 
(Risos) 
E partilhei aquilo dizendo algo do género, agora a sério, nunca leram textos de opinião do Samuel ou leram algumas das suas letras? Isto não lembra ao diabo. 
Um dos comentadores do programa, ou o Nuno Galopim ou o Rui Miguel Abreu, não sei precisar, chegou a dizer: “O Samuel deve de se estar a rir à brava, ao ler alguns dos comentários mais inflamados do Twitter”. 
S - É verdade, é verdade, mas como já tive Twitter há dez anos e perdi a password, estava a receber de amigos meus, sobretudo amigos de esquerda, a rirem-se também eles a bandeiras despregadas, a mandarem-me uma espécie de best of, das coisas que estavam a ser ditas.
E de facto tinham muita piada, foi mesmo uma tarde divertida para mim. 
Para já, por causa daquela ideia de que eu, de repente, saí do armário, só porque assinei um texto (ACDM – um texto coerente e sem nada que se aponte), aliás um texto contra a normalização da extrema direita, contra a normalização de ideias fascistas e autocráticas que devia ser a coisa mais normal., eu cresci com a normalidade de rejeição da autocracia e do fascismo e das ideias de extrema direita. 
Mas de facto no Twitter, e até, se calhar, por ser marcado por gente mais nova, o texto em si, não interessava para nada, havia ali era uma espécie de “escapou-nos ao index oficial” que há um artista que não se, nem é ser de direita, é alguém que se diz de não socialista, de facto essa era a nomenclatura, era os não socialistas. 
E então surgiu, tenho consciência que surgiu, logo no início, o “ah, esse gajo não é socialista, cancelem-no”, mas de repente, e aquilo foi só no início, foi uma defesa de carácter, malta que me conhece a fazer uma defesa pessoal e também, malta que não me conhece a fazer uma coisa que pode parecer quase perniciosa, tendo em conta o espectro democrático, “ele é de direita, mas” quase parece, “mas até tem maneiras, até deve fazer a sua higiene pessoal e íntima”, é quase aquela defesa, “mas não sei quê…” 
ACDM -Sim, sim, eu achei fantástico porque, apanhei aquilo já com “o comboio em andamento” ou já quase a parar na estação, e achei curioso, será que tu os baralhaste com o “Fica Aquém”? 
S - Eu durante 3 anos, escrevi textos de opinião, colunas de opinião e crónicas, e sendo eu uma pessoa que, lá está, ou desde que me fiz pessoa, nunca me conotei propriamente com a esquerda, porque eu tinha sempre uma ideia da esquerda que é um bocadinho mais dogmática e os meus dogmas não estão na política, a esquerda sempre me pareceu um bocado, de alguma maneira mais doutrinária e eu fugi dessa doutrina.
Também ajudou eu ter-me feito adolescente e adulto, na altura do Independente e a ler os textos do Miguel Esteves Cardoso, ajudou um bocado a perceber que um pensamento livre, se se dissesse de esquerda, sendo livre na mesma, teria de respeitar um sem número de ideais que eu, muitas vezes respeitando, posso perfilha-los não sou aperfilhado por eles, aí é que esta, na direita achei que teria sempre mais liberdade, baldando-me para o que é de direita ou o que não é. 
Mas curiosamente, quando eu fazia esse artigos de opinião, normalmente quando eu falava de questões como o racismo, o racismo então era um clássico, uma das críticas e, normalmente, a maioria das pessoas que vão comentar, é para mandar vir com quem escreveu e uma das coisa que mais me chamavam, nas caixas de comentários, era de Esquerdalho, o nome que mais me chamavam era “este esquerdalho, não sei quê , olha para o PCP que também matou não sei quanta gente”. 
ACDM - Pois, aquela “contagem de cadáveres” do costume, não é? 
S - Sim, curiosamente, sendo eu falando completamente em plena consciência do que são os meus ideais e do que não são os meus dogmas, uma das críticas que mais me faziam era ser um Esquerdalho. ACDM - Sim, e em certa parte, és também (risos), e já agora, falaste do independente, eu quando era mais novo, bebia muito do Independente e aprendi a escrever e fui fã do MEC, estavas a assinar ao lado, mais abaixo, dele. 
S - Sim, é verdade, não sei quem está na génese do texto, mas o grosso do texto um dos principais que é também meu amigo, é o Pedro Mexia, com quem também me revejo e que também fez uma espécie de revolução intelectual da direita, na altura do início do século, também com os blogs, sobretudo com a Coluna Infame que foi, possivelmente, o primeiro grande blog de política em Portugal e que depois os blogs políticos de esquerda, que nasceram na mesma altura, não foram em contrariedade à Coluna Infame, mas simplesmente, malta de esquerda que era amiga da malta da CI, do Pedro Mexia, do Pedro Lomba e, outro que me está a falhar, era malta que , por serem amigos, quiseram também ter um blog, não em contraponto, mas quiseram ter um blog para fazer uma discussão saudável. 
Foi de facto o Pedro, de quem parte esse texto, o Francisco Mendes da Silva , também, uma pessoa… 
ACDM - Viseense, claro que fica ali perto do eixo do Cavaquistão. 
(risos) 
S - Sim, viseense, sim, são eles que me falam desse texto e são pessoas em quem eu confio, obviamente que só anuí com a minha assinatura, depois de ler e pá, é uma coisa impossível de não concordar. 
ACDM - Claro, eu comecei a pensar na polémica passado meia hora ou assim e isto só prova que a inteligência, tal como a estupidez, não escolhe direita nem esquerda, é uma coisa incrível, eu fiquei pasmado porque acima de tudo eu admiro a inteligência e nunca vou deixar de ouvir ou ler alguém, só porque é de direita ou de esquerda.

Sem comentários: