2016 ficará sem dúvida marcado, pelo regresso da banda Velhos aos discos. Trocaram uma das guitarras por um teclado, "abaladaram-se" um pouco, mas continuam a fazer grandes discos.
É em: http://velhos.bandcamp.com/releases que poderão ouvir o disco na totalidade e descarrega-lo gratuitamente. São nove faixas, completamente fora de "moda" que sabem muito bem ouvir.
Mas não podem deixar de o comprar e ficar assim com a última peça editada pela, defunta, Amor Fúria. A edição é partilhada com a Flor Caveira que pega assim no testemunho das edições de Roque em Português.
O disco, que está uma pequena maravilha e leva a classificação de Muito Bom, vai ser apresentado amanhã no Music Box em Lisboa.
Fiquem com o vídeo de "Manso", um dos singles já lançados:
Fiquem, também, com o texto que o Tiago Guillul escreveu sobre eles:
"Há cinquenta o anos o rock'n'roll servia para colocar em risco os valores da família e no disco novo dos Velhos serve para o contrário: eles andam à rasca para a constituir. Pedidos de casamento, desejos de filhos, lareiras e praias sonhadas para a descendência. Ainda por cima, já não é só o Quica que faz estes pedidos num registo de lamúria gemida (ele antes não cantava assim...), é também o Sebastião em pose Dylan-New Morning de óculos e camisa branca que se junta ao clamor. O que é que deu aos Velhos?
O que no primeiro disco era bojarda tornou-se agora balada. Não há uma única canção rápida no novo disco. E a segunda guitarra que foi substituída por um órgão? Os Velhos fizeram jus ao nome e amoleceram? Nem por isso. Os Velhos tornaram-se uma banda que tornou o seu rock numa expressão real de fado. E por isso não é de estranhar que haja no registo mais suplicante da voz um resquício de Alfredo Marceneiro. Os Velhos mudaram a mobília da casa deles para que a mariquice viesse masculinamente assumida.
Ao contrário do primeiro disco, onde a voz estava na música dos Velhos como um tempero leve para a argamassa sónica (e que potência saía dali!), agora os instrumentos chegam-se para trás para a seguirem. Esta é logo a primeira e mais óbvia surpresa deste disco. As pessoas vão ter de agora dar ouvidos aos Velhos, quando no anterior precisavam apenas de se deixar levar por eles. Este é, por isto, o primeiro disco delicado de uma banda saudavelmente bruta. Mas o interessante é que o que os Velhos procuram agora através da delicadeza produz um efeito mais radical em nós que os ouvimos. Os Velhos ao darem mais devagar dão com mais força.
Curiosamente, este disco dos Velhos serve também para pôr um ponto final na editora Amor Fúria. Há alguma coisa que está a acabar aqui. De outra perspectiva, o disco dos Velhos também é editado pela FlorCaveira, confirmando que, independentemente das sensações sazonais, há que continuar na tradição da devoção e distorção. Os Velhos, que participaram na vaga da nova música que por estes dias alcança algum reconhecimento público, não fazem um disco de crista da onda porque preferiram navegar para águas profundas que não são vistas da praia. Na música deles ouvimos agora um rumor de Tom Petty (obrigado João Só, que gravaste o disco na perfeição!), de Black Crowes (e aquele embalo sulista) e até de Mingos e Samurais (haja coragem para elogiar o Veloso que nos pertence!). Enquanto os miúdos modernos surfam, os Velhos zarparam do Restelo para novos descobrimentos.
Aqueles que já viram os Velhos ao vivo sabem que eles não brincam. Não há conversa de chacha, não há cedência à emoção instantânea na audiência, não há discos pedidos. Os Velhos fazem o que acham que têm para fazer. Já vi os Velhos em Musicboxes em explosão e já vi os Velhos em Sabotages em transe lento. Estou ansioso para ver os Velhos com este disco nas costas deles e no nosso coração. É das coisas mais emocionantes a acontecer na música e por isso vale a pena que lhes ofereçamos silêncio. Acreditem que se vai cantar este facto."
Tiago Guillul
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