Sílvia Pérez Cruz – 26 de Junho
Teatro Aveirense
Desde que a descobri e soube que vinha ao Teatro Aveirense, fui espalhando, pela minha “rede” de amigos e não só, que provavelmente ia ser o melhor concerto do ano. Mal sabia eu que as minhas, já altas expectativas, ainda iriam ser superadas.A sala ficou praticamente esgotada, o que me fazia antever que não era só eu a pensar assim. As caras que fui encontrando deram-me a entender que o Aveirense, nesta noite, era "A" sala da não só da cidade, não só do distrito, mas de toda a região.
À nossa espera, em palco, estavam cinco cadeiras que rapidamente se iriam encher de pessoas cheias de talento. Além da Sílvia, iríamos ter a música quase mágica interpretada por Marta Cardona no violino, Carlos Montfort no violino, Josep Bracerona viola, Joan Antoni Pich no violoncelo e Miquel Àngel Cordero no contrabaixo. Desde o primeiro momento agarraram toda a sala e foi um espalhar de boas sensações durante as quase duas horas de concerto.
Foi um desfilar de bonitas canções, excelentes orquestrações e muita beleza e sensualidade. Em espanhol, catalão, português e inglês, foi-nos encantando com a sua voz e enorme simpatia. Os músicos não lhe ficaram atrás e mostraram ser a escolha perfeita para a acompanhar.
“Vestida de Nit”, o seu mais recente disco, deu-nos a maioria das canções, mas a enriquecer a noite tivemos temas de outros discos. Com a sua simpatia ia agradecendo cada ovação, numa mistura de línguas ibéricas, ia explicando algumas das suas canções. Algumas originais dela e dos pais, outras, excelentes interpretações que as transformaram em canções suas. Cantou-se o amor, o desamor, a religião e a política que nos envolve.
Um dos momentos mais altos foi, sem dúvida, a interpretação do tema “No Hay Tanto Pan”, canção que fez parte do filme “Cerca de Tu Casa” em que Sílvia também participou como actriz. Como ela bem explicou, o título é uma adaptação da frase usada pelos cidadãos espanhóis que se manifestaram contra as consequências da crise financeira que também nos atacou, e de que maneira. A frase é “No Hay Pan para tanto Chorizo” que significa algo como “o dinheiro não chega para tanto ladrão!”. As sensações que despertou foram tais que a ovação que se seguiu foi enorme e durou alguns minutos, de repente o tema tocava a todos e todos o demonstraram com aplausos.
Este foi o tema que mais se destacou, mas todos puseram a “fasquia” bem alta, mesmo o que era uma espécie de canção de Shakira à la Sílvia, curiosamente uma canção que lhe deu um prémio Goya. Para o tema "20 años", ficou apenas acompanhada pelo contrabaixista e a interpretação deixou arrepios na pele. Ouvimos uma quase irreconhecível versão do tema "Lambada" que a tornou numa canção quase erudita.
Homenageou Leonard Cohen com um "Hallelujah" que se cola ao coração. Cantou um “Não Sei”, inspirado na paisagem alentejana de Reguengos, terra onde vive a sua irmã. Interpretou magistralmente “Cucurrucucu” e ainda teve tempo de arriscar, e bem, um “Estranha Forma de Vida”, já no encore, que teria deixado a própria Amália com um sorriso nos lábios.
Por fim, rematou com “Gallo Rojo, Gallo Negro” que é a canção que melhor descreve a guerra civil de Espanha em particular e todas as lutas pela liberdade e justiça em geral.
Com a Alma cheia, as pessoas foram saindo, eu próprio já estava na banca a comprar o seu cd, e eis que os mais resistentes conseguiram que ela voltasse para um segundo encore, acompanhada pelo seu contrabaixista.
Passado dois dias, ainda parece que vivi um sonho, mas na verdade, foi bem real e eu estive lá. Este foi um daqueles concertos do qual irei falar, até que a memória me abandone.
(mais fotos aqui)
Alinhamento
Tonada de Luna llena
Mechita
Não Sei
Verde
Vestida de Nit
Ai Ai Ai
20 Años
Carabelas Nada
Asa Branca
Cucurrucucu
No Hay Tanto Pan
Hallelujah
Lambada
Encore
Estranha Forma de Vida
Gallo Rojo, Gallo Negro
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