Cem Soldos - 12 de Agosto
Bons Sons 2017
Bons Sons 2017
Para evitar falhar o Bons Sons, pelo terceiro ano
consecutivo, decidi agarrar uma parte e fui a um só dia de Festival. O único
dia possível para ir, foi o de sábado, 12 de Agosto, e que dia…
Antes de mais, tenho de dizer que quando se passa o pórtico
de entrada, há um qualquer “alinhamento cósmico” que bloqueia tudo aquilo que
te chateia e preocupa no dia-a-dia e, de repente, sentes um sorriso em ti e em
todos aqueles com quem te cruzas. Pessoal da organização, dos bares,
“festivaleiros” e até os seguranças do recinto, têm uma simpatia bem acima
daquilo que estamos habituados, noutros locais. Em suma, há sem dúvida algo de
muito bom a “empestar” o ar de Cem Soldos que faz com que vivamos uma
permanente utopia social e sonora.
A primeira surpresa do dia foi, logo à entrada, deparar com
as minhas queridas Señoritas a dar um mini-mini concerto à janela de uma casa
ao lado da Igreja, no palco à porta do local santificado, estavam os boa-onda
Les Saint Armand a aguardar para fazer o seu sound check, pacientes, cheios de
sorrisos e sem um sinal exterior de stress. Se dúvidas houvesse, estes também
iriam ter uma estreia memorável neste dia.
Depois desta emoção inicial, já estava o Filipe Sambado (Foto Reportagem) no
palco Giacometti a mostrar a sua Pop sonhadora e a agarrar ao seu imaginário
musical, todos aqueles que já enchiam a rua para o ver. Não assisti à
totalidade do concerto, porque também tinha de “tirar o pulso” à aldeia e
aproveitar para ir revendo algumas, muitas, caras conhecidas.
Sou um bocadinho “suspeito” a falar das Señoritas (Foto Reportagem), até
porque elegi o seu álbum de estreia como o melhor de 2016 e fui um dos sortudos
que as viram, na sua primeira incursão fora de Lisboa, ficando logo conquistado
quando ainda nem disco tinham. Mas não posso deixar de expressar a minha
alegria ao testemunhar a evolução das suas actuações em palco. No Giacometti fizeram
a passagem do por do sol para o início da noite, com admiradores na primeira fila,
a cantar todas as letras de cor, com, pelo menos um músico de renome que
parecia encantado a vê-las e todo o anfiteatro a aplaudir, sinceramente, todos
os temas que apresentaram. Para mim foi um orgulho, sentir que estava certo, desde
que as ouvi pela primeira vez, e soube-me muito bem constatar que não sou o
único a adorar as Señoritas.
Após este magnífico concerto, um reencontro de amigos e a
fila para alimentar o corpo, pois uma maratona destas, não se aguenta só com
alimento para o espírito, quase perdia Medeiros/Lucas (Foto Reportagem), no Palco Lopes-Graça, e
quase deixava de poder assistir in loco ao “jogo” entre a voz grave de Medeiros
com as sonoridades modernas criadas pelo Lucas. Esta música é tão boa que sobe,
rapidamente, para aquela categoria de música intemporal que é boa hoje e vai
sê-la, também daqui a cem anos. Aquilo que vi serviu para poder confirmar a
suspeita de que este é um dos projectos mais interessantes, no panorama da
música nacional.
No Palco Eira, seguiram-se os enormes Mão Morta (Foto Reportagem), verdadeiros
mestres do Rock em português que estão a comemorar os 25 anos do emblemático
disco “Mutantes S.21” e, como é habitual, não deixarem os créditos por mãos
alheias e abanaram com tudo. Eventualmente as gerações mais novas, estavam à
espera do “Budapeste”, mas por ali estavam muitos conhecedores da brilhante
carreira da banda de Braga e que não perdem uma oportunidade para os rever. O
concerto pecou por curto, essas são as vicissitudes dos concertos de festival,
mas na verdade, quando no fim sabe a pouco, é porque foi muito bom.
No fundo o Bons Sons também é isso, uma sucessão de pequenos
grandes momentos que ficam na memória e dão bagagem para que se pesquise o
resto daquilo que os grupos que lá vão têm para oferecer.
No Palco Lopes Graça ia dar-se o regresso da Né Ladeiras (Foto Reportagem), a
um enorme palco. Enquadrada por uma super banda, veio mostrar “Outras Vidas”, o
responsável por finalizar o silêncio discográfico que já durava há demasiados
anos. O, aparente, nervosismo inicial, foi sanado rapidamente e o passeio por
este e outros discos, mais a passagem pelo reportório da Banda do Casaco, conquistaram
aquela ”praça de gente madura” que se juntou ali para a ver e celebrar a sua
música.
Para finalizar vieram os angolano/portuenses Throes+The Shine (Foto Reportagem),
provavelmente, enquanto estive a escrever este texto, já estão a saltar para o
meio do público em qualquer local do país ou da Europa, pois eles já não são
daqui, eles são do mundo. Foi provavelmente o melhor e mais infatigável
espectáculo que vi nos últimos anos. Ainda estou para perceber, como é que com
uma guitarra, sintetizadores, samplers, uma bateria frenética, e três
vocalistas, conseguem “partir tudo” e fazer uma festa desta dimensão. Eles são
incríveis e mestres na arte de por toda a gente a dançar. Por momentos
passou-me pela cabeça aquela letra que diz: “vá de folia, vá de folia que sete
anos me não mexia”. É impossível ficar indiferente ao que esta banda faz em
palco, eles deixam lá tudo e transformam cada espectador num elemento da festa.
Foi mesmo a melhor maneira de encerrar o meu dia de Bons
Sons 2017, passar o ano que vem a reviver as memórias deste deia e desejar que
o de 2018 chegue rapidamente.
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