sábado, 26 de agosto de 2017

O meu Bons Sons 2017 - Report



Cem Soldos - 12 de Agosto
Bons Sons 2017
Para evitar falhar o Bons Sons, pelo terceiro ano consecutivo, decidi agarrar uma parte e fui a um só dia de Festival. O único dia possível para ir, foi o de sábado, 12 de Agosto, e que dia…
Antes de mais, tenho de dizer que quando se passa o pórtico de entrada, há um qualquer “alinhamento cósmico” que bloqueia tudo aquilo que te chateia e preocupa no dia-a-dia e, de repente, sentes um sorriso em ti e em todos aqueles com quem te cruzas. Pessoal da organização, dos bares, “festivaleiros” e até os seguranças do recinto, têm uma simpatia bem acima daquilo que estamos habituados, noutros locais. Em suma, há sem dúvida algo de muito bom a “empestar” o ar de Cem Soldos que faz com que vivamos uma permanente utopia social e sonora. 


A primeira surpresa do dia foi, logo à entrada, deparar com as minhas queridas Señoritas a dar um mini-mini concerto à janela de uma casa ao lado da Igreja, no palco à porta do local santificado, estavam os boa-onda Les Saint Armand a aguardar para fazer o seu sound check, pacientes, cheios de sorrisos e sem um sinal exterior de stress. Se dúvidas houvesse, estes também iriam ter uma estreia memorável neste dia.

Depois desta emoção inicial, já estava o Filipe Sambado (Foto Reportagem) no palco Giacometti a mostrar a sua Pop sonhadora e a agarrar ao seu imaginário musical, todos aqueles que já enchiam a rua para o ver. Não assisti à totalidade do concerto, porque também tinha de “tirar o pulso” à aldeia e aproveitar para ir revendo algumas, muitas, caras conhecidas.

Os Les Saint Armand (Foto Reportagem), além de usarem muito bem as palavras da nossa língua materna, conseguem “brincar” e desafiar-nos com a sua música. Harmonias de vozes lindíssimas, instrumentos acústicos a fazer a ponte entre a inspiração no tradicional e brilhantes devaneios jazzísticos, fazem adivinhar um futuro brilhante para este grupo que, por agora só tem um E.P. para mostrar e que pode ser ouvido aqui.


Sou um bocadinho “suspeito” a falar das Señoritas (Foto Reportagem), até porque elegi o seu álbum de estreia como o melhor de 2016 e fui um dos sortudos que as viram, na sua primeira incursão fora de Lisboa, ficando logo conquistado quando ainda nem disco tinham. Mas não posso deixar de expressar a minha alegria ao testemunhar a evolução das suas actuações em palco. No Giacometti fizeram a passagem do por do sol para o início da noite, com admiradores na primeira fila, a cantar todas as letras de cor, com, pelo menos um músico de renome que parecia encantado a vê-las e todo o anfiteatro a aplaudir, sinceramente, todos os temas que apresentaram. Para mim foi um orgulho, sentir que estava certo, desde que as ouvi pela primeira vez, e soube-me muito bem constatar que não sou o único a adorar as Señoritas.


Após este magnífico concerto, um reencontro de amigos e a fila para alimentar o corpo, pois uma maratona destas, não se aguenta só com alimento para o espírito, quase perdia Medeiros/Lucas (Foto Reportagem), no Palco Lopes-Graça, e quase deixava de poder assistir in loco ao “jogo” entre a voz grave de Medeiros com as sonoridades modernas criadas pelo Lucas. Esta música é tão boa que sobe, rapidamente, para aquela categoria de música intemporal que é boa hoje e vai sê-la, também daqui a cem anos. Aquilo que vi serviu para poder confirmar a suspeita de que este é um dos projectos mais interessantes, no panorama da música nacional. 


No Palco Eira, seguiram-se os enormes Mão Morta (Foto Reportagem), verdadeiros mestres do Rock em português que estão a comemorar os 25 anos do emblemático disco “Mutantes S.21” e, como é habitual, não deixarem os créditos por mãos alheias e abanaram com tudo. Eventualmente as gerações mais novas, estavam à espera do “Budapeste”, mas por ali estavam muitos conhecedores da brilhante carreira da banda de Braga e que não perdem uma oportunidade para os rever. O concerto pecou por curto, essas são as vicissitudes dos concertos de festival, mas na verdade, quando no fim sabe a pouco, é porque foi muito bom. 

No fundo o Bons Sons também é isso, uma sucessão de pequenos grandes momentos que ficam na memória e dão bagagem para que se pesquise o resto daquilo que os grupos que lá vão têm para oferecer.
 No Palco Lopes Graça ia dar-se o regresso da Né Ladeiras (Foto Reportagem), a um enorme palco. Enquadrada por uma super banda, veio mostrar “Outras Vidas”, o responsável por finalizar o silêncio discográfico que já durava há demasiados anos. O, aparente, nervosismo inicial, foi sanado rapidamente e o passeio por este e outros discos, mais a passagem pelo reportório da Banda do Casaco, conquistaram aquela ”praça de gente madura” que se juntou ali para a ver e celebrar a sua música. 

 Para finalizar vieram os angolano/portuenses Throes+The Shine (Foto Reportagem), provavelmente, enquanto estive a escrever este texto, já estão a saltar para o meio do público em qualquer local do país ou da Europa, pois eles já não são daqui, eles são do mundo. Foi provavelmente o melhor e mais infatigável espectáculo que vi nos últimos anos. Ainda estou para perceber, como é que com uma guitarra, sintetizadores, samplers, uma bateria frenética, e três vocalistas, conseguem “partir tudo” e fazer uma festa desta dimensão. Eles são incríveis e mestres na arte de por toda a gente a dançar. Por momentos passou-me pela cabeça aquela letra que diz: “vá de folia, vá de folia que sete anos me não mexia”. É impossível ficar indiferente ao que esta banda faz em palco, eles deixam lá tudo e transformam cada espectador num elemento da festa. 

Foi mesmo a melhor maneira de encerrar o meu dia de Bons Sons 2017, passar o ano que vem a reviver as memórias deste deia e desejar que o de 2018 chegue rapidamente.

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