sexta-feira, 27 de julho de 2012

Festival Sinsal X - dia 25 de Julho

O alerta veio logo no primeiro email, “o festival é numa ilha, só tem acesso por barco”. Nada que fizesse demover-me do interesse por um festival. A ilha de San Simón tem uns parcos metros quadrados de terra e fica perto de Redondela no meio da ria de Vigo. A organização do evento não desvendava o cartaz e mesmo assim os bilhetes encontravam-se esgotados a uma semana do evento. Só se tomava conhecimento dos artistas na chegada à ilha, com um enorme cartaz onde constava o cardápio musical do dia, os horários e os locais onde iriam decorrer as actividades. E estava garantido um bom cartaz ao jeito indie, não quero ser tendencioso, mas esse é mesmo o meu género musical. Com nomes como Nite Jewel, Alt-J, Christian Kjellvander e Maia Vidal a festa estava garantida, ainda com o sítio propriamente dito e todo o ambiente natural não se poderia pedir melhor para um bom feriado Galego.


Os belgas Hoquets fizeram as honras de abertura, com instrumentos algo rudimentares, apresentaram uma performance onde os tachos, bandejas e outros instrumentos de cozinha e algumas peças de ferragem faziam parte do cenário instrumental. Uma maradice muito grande, mas que resultava muito bem como concerto de boas-vindas, já que os festivaleiros andavam cerca de 10 metros do barco até ao recinto onde estavam a tocar.
Apesar de muito respeitados pela Europa os franceses L’Enfance Rouge não me agradaram, talvez pela sua onda ser mais rock alternativo, qualquer coisa que no final resultava em muito barulho com muito pouco sentido estético. São aclamados por todo o lado, e isso torna-os heroína para um bom rockeiro. Mas foi a oportunidade para reconhecimento da ilha.
Depois destas duas bandas, veio uma das que me agradaram mais de todo o evento, Christian Kjellvander, o jovem sueco brindou a assistência com uma boa dose de alt.country. Com uma vasta carreira (e um Grammy no bolso) revelou uma maturidade musical acima da média dos companheiros do cartaz. Em San Simón apresentou temas do seu último trabalho The Rough & Rynge compondo com temas de álbuns anteriores. Uma banda sonora fantástica para aqueles que procuram neste tempo para reconfortar o estômago com uma refeição ligeira, ou para relaxar nas sombras das árvores.
Aries veio cheia de energia para a actuação e não era para menos. Uma one-girl-band, com guitarra, electrónicas e teclados, instalou a festa no palco e mostrou um som ambíguo, cheio de referências ao universo pop com um toque de agressividade a fazer lembrar uma boa compota de laranja, tão dose e amarga ao mesmo tempo.
E a “siesta” esse habito espanhol onde parava? A resposta a essa questão foi encontrada na outra ilha, junto à ilha de San Simón – San Antón. Que começou com os Al-Madar, num clima de tradicionalismo árabe fortemente influenciado pelas Américas, o grupo fez as honras de abertura do melhor cenário natural que tive oportunidade de presenciar até hoje. Toda a ria de Vigo ao fundo, uma beleza ímpar.
Já de toalha no chão, algumas com o símbolo do Optimus Primavera Sound, o que prova a mobilidade dos festivaleiros, Alela Diane subiu ao palco e tentou aquecer os dorminhocos presentes, tentou já que o seu som country folk do Nevada não surtiu grande efeito à assistência.
Para finalizar os concertos nesta ilha outras das surpresas do festival Maia Vidal, outra americana que nos últimos anos tem divido o seu tempo entre Paris e Barcelona apresentou o álbum de estreia God Is My Bike. Acompanhada do seu acordeão, o concerto surtiu um efeito vespertino de final de “Siesta”, ficando a soar o ouvido o hit “Follow me” por algum tempo nos ouvidos. Uma agradável surpresa num ambiente fantástico, soando a pouco, pelo parco tempo de actuação.
Regresso a San Simón para ouvir uma das estrelas do festival, Nite Jewel alter-ego de Ramona Gonzalez, a menina de L.A. veio acompanhada da sua banda para uma apresentação do registo mais recente “One Second of Love”. Um estilo pop-sintético que parecia morto nos anos 80, reeditado e recriado numa forma encorpada com uma nova visão de som do novo milénio. Talvez este facto não tão surpresa para quem já tenha vivido na época tão pobre, mas ao mesmo tempo tão frutífera, cheia de hits que iam parar às pistas das discotecas. A actuação em formato festival é marcada pela mudança de ritmos e algumas baladas como o caso de “In the Dark” ou “Mind & Eyes” a contrariar o hit “One Second of Love”. Um final de tarde mais quentinho com um cenário mais abrigado fizera as alegrias do público, que aproveitou para fazer o aquecimento para o concerto mais energético de todo o festival.
Os Unicornibolt foram o último concerto do “Paseo dos Buxos”, e quase explodiam com a ilha… Um rock potente a rasgar qualquer surto de sonolência presente. Fizeram lembrar os portugueses Black Bombaim, contudo estes quatro rapazes apareceram munidos de estranhos capacetes de papel de alumínio, terminaram a sua actuação a provar a qualidade dos estrados de palco convidando o público a compartilhar o palco com eles. Uma festa, ou diria mesmo “fiesta” para o final que ainda estava para vir…
Intervalo para a última cerveja e ouvir o dj Simon Russel que estava a tocar som dos anos 70, num cenário improvisado junto às vendas de discos e das habituais peças de roupa.
Vindos directamente de Barcelos do Milhões de Festa, os quatro rapazes de Leeds, subiram ao palco para o encerramento do SinSal. Com um único trabalho editado “An Awesome Wave” os Alt-J mantiveram o ritmo de festa desta vez em ritmo mais electro-pop.
Confesso que estava à espera de um pouco mais, contudo temos de dar o benefício da estrada e de um caminho que estão ainda a começar.
Quase na hora de partir da ilha, o público ainda foi brindado com os Shangaan Electro.
Um som afro-tribal qualquer coisa frenética a juntar vozes e um MC, com forte batida, mas o mesmo passo do principio ao fim. Uma aposta excelente da equipa do SinSal que ao longo do ano brida a Galiza com excelentes propostas musicais e que soube fazer o que de melhor lhe compete.
Um festival com onze artistas para agradar a toda uma franja de público.
Soa a indie o tempo todo, mas esta independência é que faz os cristais do sal brilhar.
Vale a pena marcar na agenda a data do próximo festival e não perder um excelente dia de música.

Texto e Fotos de Miguel Estima

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