De 08 a 18 de novembro, Guimarães recebe mais uma edição do seu festival de jazz. Este ano, o mundo celebra os 100 anos decorridos desde a gravação do primeiro registo discográfico de jazz,
um momento simbólico que mudaria para sempre a história desta música. É
precisamente esta efeméride que orienta o conceito programático da 26ª
edição do Guimarães Jazz.
Um dos traços distintivos do Guimarães Jazz
é o facto de este ser um festival com um conceito: um conceito
primacial e transversal a todas as edições que todos os anos se ramifica
em sub-conceitos e ideias de programação subjacentes ao alinhamento em
causa. Na sua edição transata, o festival cumpriu vinte e cinco anos de
um percurso de reconhecida coerência e vitalidade artística e, nessa
ocasião, a organização enfatizou a importância de um festival questionar
permanentemente a sua própria história, partindo da ideia segundo a
qual pensar a História é, em certo sentido, uma das estratégias possíveis de fazer História.
Em
2017, a matriz programática do festival passa pela sinalização dos 100
anos decorridos desde a gravação do primeiro registo discográfico de um
género musical, até aí quase absolutamente desconhecido e ainda
impreciso terminologicamente, a que se convencionou chamar “jazz”.
Apesar da irrelevância do acontecimento em termos estritamente
musicais, a gravação da Original Dixieland Jass Band corresponde, numa
dimensão simbólica, à fundação de uma linguagem musical autónoma. A
partir desse momento, a história do jazz mudaria
para sempre, até porque a documentação em registo sonoro teve
importantes implicações no desenvolvimento de uma música intrinsecamente
volátil e que foi sempre, desde a sua génese, baseado na improvisação e
na execução em tempo real.
Assinalar
esta efeméride corresponde, portanto, a questionar e problematizar a
noção de património, tanto a um nível narrativo como musical, sugerindo
assim uma nova organização da história. É a partir desta ideia de
programação que se entretecem as relações entre os diferentes projetos
presentes no alinhamento e é também ela que justifica, em parte, a
transversalidade de gerações e idiomas musicais presentes nesta edição.
Inserido num contexto marcado pela multidisciplinaridade, politemporalidade e polissemia dos fenómenos musicais, o Guimarães Jazz
propõe-se captar uma visão panorâmica do passado para, assim, operar
uma transformação cultural, o que implica olhar com a mesma atenção para
os diferentes estratos temporais que sedimentam a contemporaneidade e
identificar neles os sinais que apontam para o futuro, ainda
desconhecido, desta música. Cartografar a memória é radiografar o
presente.
Eclético, aberto e transversal, o Guimarães Jazz pretende afirmar-se como polo difusor de uma reflexão alargada sobre o futuro do jazz
e, em sentido mais lato, das práticas musicais e artísticas do século
XXI. No entanto, pretendemos sobretudo que nem esse desígnio discursivo,
nem o conceito que lhe subjaz, nos distraiam da nossa missão
fundamental de divulgação do jazz, através de
projetos nos quais, além da pertinência dos seus pressupostos artísticos
(um critério fundamental de programação), seja também ponderada a
importância de dar a conhecer ao público músicos de grande qualidade,
mesmo quando não são eles os líderes das formações.
O concerto inaugural da edição de 2017 do Guimarães Jazz será protagonizado pelo extraordinário guitarrista Nels Cline (08 novembro), que apresentará o seu muito celebrado projeto “Lovers” acompanhado da Orquestra de Guimarães. Os cem anos da primeira edição discográfica de jazz são celebrados explicitamente no segundo momento do festival, que apresentará o espetáculo “Jazz – The Story” (09 novembro), desenvolvido pela All Star Orchestra,
um ensemble de músicos notáveis onde pontificam, entre outros, os
saxofonistas Vincent Herring e James Carter e o contrabaixista Kenny
Davis. Seguem-se dois momentos fortes da edição de 2017, reveladores da
amplitude geracional e estilística presente neste alinhamento: o
vanguardista e histórico baterista do free jazz Andrew Cyrille (10 novembro), que interpretará o álbum “The Declaration of Musical Independence”, considerado um dos grandes discos de jazz de 2016, e a banda Mostly Other People Do The Killing (11 novembro) – um dos mais relevantes e desafiantes projetos de jazz do segundo milénio, o qual se apresentará em septeto pela primeira vez em Portugal.
A segunda semana será preenchida pelo regresso a Guimarães do incontornável Jan Garbarek a 16 de novembro (num concerto que contará com a presença do percussionista indiano Trilok Gurtu), pela atuação da baterista norte-americana Allison Miller
(acompanhada por músicos de grande qualidade, como Myra Melford, Ben
Goldberg e Kirk Knuffke, entre outros) a 17 de novembro e, finalmente,
pela apresentação do espetáculo “Real Enemies”, liderado pelo idiossincrático Darcy James Argue (18 novembro) e executado pela sua big band Secret Society
(também uma estreia em solo nacional), um projeto musical inovador com
uma dimensão de reflexão política sobre o mundo de vigilância e paranoia
digital em que vivemos hoje.
A edição de 2017 do Guimarães Jazz incluirá também, para além do programa principal de grandes concertos, duas atuações no Pequeno Auditório do CCVF – a banda VEIN, que contará com a colaboração do reputado saxofonista Rick Margitza (11 novembro), e o quarteto de Jeff Lederer e Joe Fiedler, acompanhado pela vocalista Mary LaRose (18 novembro), grupo que será responsável pelas tradicionais jam sessions e oficinas de jazz, bem como pela direção da Big Band e do Ensemble de Cordas da ESMAE. Por fim, o projeto de parceria entre o Guimarães Jazz e a Porta-Jazz
(12 novembro) volta a conhecer um novo capítulo, desta vez incidindo
numa relação de cruzamento disciplinar entre música e teatro, que
contará com a colaboração do dramaturgo Jorge Louraço Figueira, da atriz
Catarina Lacerda e dos músicos Nuno Trocado, Tom Ward, Sérgio Tavares e
Acácio Salero.
Os bilhetes para os concertos do Guimarães Jazz
2017 já se encontram à venda, podendo ser adquiridos nas bilheteiras do
Centro Cultural Vila Flor, da Plataforma das Artes e da Criatividade, e
da Casa da Memória, bem como nas Lojas Fnac e El Corte Inglés, e via
online em www.ccvf.pt e oficina.bol.pt.
guimarães jazz 2017
PROGRAMA
Quarta 08 novembro
CCVF / Grande Auditório / 21h30
Nels Cline – Lovers
Com Orquestra de Guimarães
Preço 5,00 eur
Quinta 09 novembro
CCVF / Grande Auditório / 21h30
All Star Orchestra plays Jazz – The Story
An exciting musical trip through 100 years of Jazz recording
Preço 15,00 eur / 12,50 eur c/d
Sexta 10 novembro
CCVF / Grande Auditório / 21h30
The Andrew Cyrille Quartet
Andrew Cyrille, Richard Teitelbaum, Ben Monder, Ben Street
“The Declaration of Musical Independence”
Preço 15,00 eur / 12,50 eur c/d
Sábado 11 novembro
CCVF / Pequeno Auditório / 18h30
VEIN feat. Rick Margitza
Preço 10,00 eur / 7,50 eur c/d
Sábado 11 novembro
CCVF / Grande Auditório / 21h30
Mostly Other People Do The Killing – Loafer’s Hollow
Preço 15,00 eur / 12,50 eur c/d
Domingo 12 novembro
CCVF / Grande Auditório / 17h00
Big Band e Ensemble de Cordas ESMAE conduzida por Jeff Lederer e Mary LaRose
Preço 5,00 eur
Domingo 12 novembro
PAC / Black Box / 21h30
Projeto Guimarães Jazz / Porta-Jazz #4
Preço 10,00 eur / 7,50 eur c/d
Quinta 16 novembro
CCVF / Grande Auditório / 21h30
Jan Garbarek Group featuring Trilok Gurtu
Preço 17,50 eur / 15,00 eur c/d
Sexta 17 novembro
CCVF / Grande Auditório / 21h30
Allison Miller’s Boom Tic Boom
Preço 15,00 eur / 12,50 eur c/d
Sábado 18 novembro
CCVF / Pequeno Auditório / 18h30
Jeff Lederer / Joe Fiedler Quartet feat. Mary LaRose
Preço 10,00 eur / 7,50 eur c/d
Sábado 18 novembro
CCVF / Grande Auditório / 21h30
Darcy James Argue’s Secret Society – “Real Enemies”
Preço 15,00 eur / 12,50 eur c/d
Assinatura geral 70,00 eur (acesso a todos os concertos)
Assinatura 1ª semana 40,00 eur (acesso aos concertos de 08 a 12 de novembro)
Assinatura 2ª semana 30,00 eur (acesso aos concertos de 16 a 18 de novembro)
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