Apreciação de Miguel Estima
No final do mês de Outubro fui agraciado com uma boa noticia, o Miguel Ângelo estava prestes a lançar um novo disco. Mas surpresa das surpresas: a solo. Só contrabaixo. Isolando-se assim de outros instrumentos e músicos com que somos habitualmente brindados quando está a apresentar-se ao vivo. E em boa hora o fez. Por vezes esse isolamento leva a fruição artística muito grande e resulta em alguma coisa maravilhosa.“I Think I’m Going To Eat Dessert”, vem de uma série de duvidas primeiro as lineares da escolha após o prato principal de uma refeição se vamos aproveitar e comer a dita sobremesa. E transpondo para a carreira do Miguel se depois de um Branco (Carimbo Porta-Jazz, 2013) e A Vida de X (Carimbo Porta-Jazz, 2016), tem espaço para este disco a solo, agora lançado.
O disco é composto por onze temas, desde o “I Have a dream” até ao “Children’s playground”, onde a jornada se faz quase toda ela sem grandes arranjos ou deambulações, num som conciso e concreto, com uma maturidade simples, colocando o ouvinte numa franja subtilmente entre a sobremesa e a especiaria gourmet, uma dose certa de açúcar que nos brinda com a tonificação apropriada, conseguida após dois álbuns em quarteto.
Conseguir arriscar já não é para todos, transpor e materializar só alguns tem essa ousadia. E ainda bem que o jazz português pode contar com um instrumentista com esta técnica, sem desleixar uma doçura natural que transpõe a cada acorde do disco. Após os quarenta minutos depois do primeiro Play no leitor, somos quase obrigados a repetir. No fundo quem dispensa mesmo a sobremesa, quando ela é assim tão bem conseguida.
Este disco foi lançado no passado dia 5 de Novembro no Solilóquios no Porto. Foi gravado na Casa do Miguel e masterizado pelo Nelson Carvalho e editado pela Creative Sources Records.
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