O Castelo de Leiria engalanou-se para receber, pela segunda vez, durante os três dias que finalizaram o sétimo mês do décimo primeiro ano do segundo milénio uma tribo de invasores vinda de todas as terras míticas da velha Europa. Tudo foi preparado pelos membros da Fade In, uma associação de culturais benfeitores, que há onze anos se têm dedicado à causa nobre da divulgação cultural, com predominância musical.
Como rótulo para o evento foi escolhido o termo de “Festival Gótico”, o único que se realiza nas nossas terras lusas. Tal contribuiu para que nos, cuidadosamente escolhidos, trajes dos invasores, predominasse um negro capaz de iluminar a noite.
Dividiram por três, os locais escolhidos para as reuniões entre os aqueles que traziam a sua arte para apresentar e aqueles que se deslocaram com o intuito de a apreciar. O inicio de cada dia deu-se pelo final da tarde na ruínas da Igreja da Pena. Depois, já com a lua a dar o seu contributo místico, continuavam as celebrações no Palco Alma, situado, verdadeiramente, entre as muralhas do castelo que pertenceu ao nosso rei poeta, tendo passado por este palco os projectos que mais teriam agradado a esse nosso rei, caso ainda ele cá vagueasse. No final da noite, descíamos até ao pátio da entrada, onde se encontrava o Palco Corpo, por onde a música que por lá passou apelava para o constante movimento do Corpo. Pelo meio ficavam as sandes de porco no espeto e os rissóis de leitão que acompanhados por copos de cerveja a preços bastante aceitáveis para os momentos que se vivem ajudavam a que plenitude dos sentidos fosse atingida.
Quanto ao efectivo motivo de todo este ritual, centraliza-se nos músicos que, para o efeito, foram convidados a estarem presentes.
As honras para a abertura foram dadas à dança das Ignis Fatuus Luna, um grupo nacional de Gothic Belly Dance, que deram às ruínas da capela o primeiro sinal do seu ressurgimento como espaço de celebração.
Aos Irfan coube-lhes abrir o Palco Alma, e que bem que o fizeram. Este agrupamento búlgaro, com dez anos de actividade, foi a primeira das estreias em palcos nacionais que o Entremuralhas deste ano proporcionou. Liderados pela voz angelical de Hristina Pipova, combinam a, já longa, tradição vocal búlgara (quem não se lembra de “Le Mystère des Voix Bulgares”?), com percussão tradicional medieval, string e sopro e viola da gamba. A sua música baseia-se numa mescla de influências musicais comuns na Bulgária, misturando a música medieval europeia, dos Balcãs e do Oriente Médio.
Com referência ficam ainda os Dead Can Dance e a voz de Lisa Gerard, que serão, certamente uma das principais influências, ou não interpretassem eles uma versão irrepreensível de “Svatba”. Boas memórias deixaram.
Os convidados seguintes foram os, já consagrados, Sol Invictus. A banda do grande britânico (no sentido literal e figurativo) Tony Wakeford, que nos trouxe o seu dark/neo folk, acompanhado de três elementos femininos (baixo, violino e percussões).
Wakeford que nos tem visitado com alguma regularidade, apresentou um concerto onde percorreu a sua já longa carreira pelo que não primou pela surpresa, mas antes, pelo prazer de escutar a partir da sua profunda voz, a amplitude poética e filosófica dos seus trabalhos.
Para finalizar a primeira noite, mais uma estreia em território luso, os britânicos NITZER EBB. Quase a celebrarem trinta anos de carreira, finalmente foi possível assistir a um espectáculo de Douglas McCarthy e Vaughan "Bon" Harris e o seu Electronic Body Music. As reminiscências de há duas décadas atrás voltaram a pairar e o corpo não conseguiu ficar quieto.
Texto e Fotos Gentilmente Cedidos por Ângelo Fernandes
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