sábado, 8 de novembro de 2014

Maria de Medeiros no Teatro Aveirense - Report


Não raras vezes tenho amigos que me perguntam: Tu não te fartas de ver tantos concertos? Respondo sempre que não, pois, na maioria das vezes, acabo por ver algo que tem o condão de me surpreender. Na passada quinta-feira, dia 6 de Novembro no Teatro Aveirense, no concerto, integrado no Misty Fest, da Maria de Medeiros, voltou novamente a acontecer semelhante, foi uma noite de autêntica magia.


Acompanhada de um “Trio” de dois virtuosíssimos músicos – Leo Montana no piano e sintetizador e Edmundo Carneiro nas percussões e outras coisas mais, Maria de Medeiros deu-nos a todos, a alegria de testemunharmos uma noite que vai ficar para sempre na nossa memória. Falo em “Trio” precisamente porque o Leo mostra-se um verdadeiro mago dos teclados, fazendo o som de baixo e contrabaixo num sintetizador analógico, com a mão esquerda e, simultaneamente, faz autênticos solos ao piano, só com a mão direita.
Esta nossa, entre outras coisas, cantora que veio agora apresentar o seu terceiro álbum – Pássaros Eternos (2013). Este disco foi apresentado na sua totalidade, acompanhado por mais cinco belíssimos temas.
Abriu com uma adaptação do poema de Alberto Morávia, “Atiro-me” que relata os impulsos de uma jovem que ao crescer volta à nossa companhia, mais à frente no concerto, com “Uma Verdadeira Senhora”, tema tornado famoso pela também actriz e cantora Laura Betti que foi adaptado na perfeição por Maria de Medeiros que, só por curiosidade, foi convidada para fazer de Laura num filme de Abel Ferrara sobre Pasolini.
 Se há coisa que não deixa de se sentir nas canções de Maria, é algum sentido cinematográfico. Qualquer destas canções, bem como a maioria das letras, podiam fazer parte da banda sonora ou da história de qualquer vida contada por filme. Como é o caso de “Trapichana” que conta/canta a história espanhol a viver no Brasil que acaba apaixonado por este País, tudo muito bem embalado por um samba “flamencado” ou um flamenco “sambado”. Neste tema Edmundo Carneiro mostrou mais alguns dos seus talentos, como a dança, o canto e alguma representação, fazendo um belíssimo dueto super bem-humorado com a Maria.
Bom Humor é coisa que não falta durante o concerto, mas a observação da realidade que vivemos, também não fica esquecida, como no caso de “Nasce o Dia na Cidade” que, até me arrisco a dizer, chega a ser uma boa herdeira da canção de intervenção.
A acompanhar quase cada uma das canções iam aparecendo lindíssimas ilustrações feitas por, entre outros, Pedro Proença, Victor Ramos, Jorge Colombo, Carlos Torres, Pascal Rabaté, Pierre-Marie Brisson, Marjane Satrapi e da própria Maria de Medeiros, a gradando ainda mais a todos os sentidos.
Não faltou “Diz que é Fado” a primeira canção escrita por ela e também se cantou Ivan Lins (Aos Nossos Filhos) e Sophia de Mello Breyner em “Por Delicadeza”.
Depois houve “Shadow Girl” que é fruto da parceria com o nosso Tigerman, Paulo Furtado, e foi feita para um espectáculo em torno de Jim Jarmusch, e cá está, mais uma vez o cinema a “espreitar”. “The Cougar Song” leva-nos às subtilezas do amor de uma mulher mais velha por um rapaz alguns anos mais novo e “Quem és Tu?” torna-se um relato humorado, em seis línguas (Espanhol, Inglês, Francês, Alemão, Italiano e Português), sobre aqueles amigos de facebook que não sabemos quem são.
 Outro dos grandes momentos da noite veio quando, ao jeito dos melhores pregadores, Edmundo dá voz a uma “prece”, invocando o nosso Zeca Afonso, natural de Aveiro e tão esquecido por esta cidade onde nasceu, pedindo a ajuda da sua luz. Durante a humoradíssima “prece” é também “invocado” o Banco Espírito Santo, mas a ideia é imediatamente abandonada, fazendo nascer a gargalhada geral pelo público. Esta introdução serviu para o tema “Noite”, escrito no original para descrever a noite de Madrid e aqui, brilhantemente, adaptado à noite Aveirense.
O já referido “Uma Verdadeira Senhora” rematou o concerto e deixou a sala de pé a aplaudir, exigindo assim o merecido encore que veio com o quase rockeiro “These Boots are Made for Walking” e uma versão de “Should I Stay or Shoud I Go” dos The Clash que, como a Maria referiu: “mostra a indecisão de um artista, sobre sai ou fica no palco”, quando a noite corre bem, como foi o caso desta noite em Aveiro.
O alinhamento desta noite cheia de Poesia, Pintura, Teatro, Cinema e Música (Pop/Rock/Jazz/Blues/Fado/Samba e Flamenco) foi:
Atiro-me 
Nasce o Dia na Cidade 
Aos Nossos Filhos 
24 Mila Baci 
Trapichana 
Diz que é Fado 
Shadow Girl 
Por Delicadeza 
The Cougar Song 
Quem és Tu? 
Fala Coração 
Minha Comandante 
Noite 
Uma Verdadeira Senhora 
These Boots are Made for Walking 
Should I Stay or Should I Go

2 comentários:

@lbino disse...

"Quem és Tu?” torna-se um relato humorado, em cinco línguas (Espanhol, Inglês, Francês, Alemão e Português)"

Vi este concerto na Casa da Música... E aqui entrava também um bellissimo italiano...

;)

Joao Nuno Silva disse...

Cá em Aveiro foi igual, já corrigi o texto.
Obrigado pela ajuda :)