A décima segunda edição do festival de jazz de Vigo veio com novo fôlego e com uma brisa nórdica. Ao leme ou, se quiserem, na curadoria desta edição estava a jovem baterista Lúcia Martinez, natural de Vigo, mas radicada já há algum tempo em Berlim.
O Imaxinasons prolongou-se durante nove dias e foi uma viagem musical que começou no Brasil com Hermeto Pascoal e terminou na Galiza com Kin García.
O jazz invadiu praças, ruas, o museu de arte contemporânea (MARCO) e, claro, o já habitual auditório do concelho. Contando, ainda, com oficinas educativas, durante as manhãs e uma exposição na Casa das Artes.
Com tantos eventos, tornou-se quase imperativo uma seleção de concertos a assistir. Por isso, as quatro idas a Vigo foram para assistir aos concertos de Hermeto Pascoal, concerto de abertura do festival e no segundo fim-de-semana as escolhas recaíram em Nani Garcia, Pedro Neves, Aki Takase, Girls in Airports, Orquestra de Jazz de Matosinhos e Kin García, na última noite do certame.
Nani Garcia Trio
Nani Garcia é dos compositores mais reconhecidos para o cinema ou, melhor dizendo, para audiovisuais. As suas composições entraram em várias séries e filmes das últimas décadas. O antigo diretor do festival, aproveitou o momento para agradecer o entusiasmo do público e do concelho em manter um festival, que já é considerado uma referência no panorama jazzístico ibérico. O concerto contou com o trio habitual, com Miguel Cabana na bateria e Simón Garcia no contrabaixo. Contou, ainda, com a presença de um quarteto de cordas.
Pedro Neves Trio
Já vem sendo habitual no festival a presença de músicos portugueses, desta feita a escolha foi para o trio do pianista radicado no Porto – Pedro Neves. O concerto decorreu ao ar livre, na Rua Londres. Apesar do recinto ser de entrada livre, teve muito pouca adesão. Talvez por estar a decorrer, ao mesmo tempo, o jogo das meias-finais entre Alemanha e França, o certo é que o espaço vazio imperava. Pedro Neves surpreendeu o público presente com um concerto tonificado, cheio de dinâmica, onde os temas ganham uma dimensão peculiar, quando tocados ao vivo. Foi um bom começo dos concertos na Rua Londres.
Aki Takase
Chegamos, assim, ao penúltimo dia do festival. Duas propostas tão diferentes! O primeiro concerto foi da japonesa Aki Takase. Sozinha em palco, com piano em formato acústico. Foi um dos pontos altos do festival. Deixando a maioria da assistência completamente rendida à sua brilhante interpretação no piano jazz. Emocionados e gratos pela elevada fasquia do concerto, Takase era uma das melhores propostas do Imaxinasons deste ano.
Girls In Airports
A noite continuou com o brilhantismo da banda dinamarquesa. Os cinco rapazes de Copenhaga, vieram super inspirados. A juntar uma plateia farta, era gente por todo o lado neste concerto, desde as escadarias e muitos de pé. A segunda noite na Rua Londres, mesmo detrás do MARCO, foi de grande festa. Se as suas composições se fixam no jazz, isso é uma dúvida. Certo é o carisma e a forma como se expressavam. Uma batida certinha e mais ou menos constante, por vezes repetitiva, sem ser monótona. Foi um belíssimo concerto! Um dos pontos mais interessantes de toda a programação do festival.
Orquestra de Jazz de Matosinhos
E para terminar da melhor forma, nada como juntar mais de uma dezena de portugueses em palco, com dois galegos é certo e mais alguns de outras nacionalidades, mas radicados no Porto.
A Orquestra de Jazz de Matosinhos é umas das mais reconhecidas e prestigiadas bandas de jazz a nível mundial. Tendo já tocado em grandes eventos ou salas, como recentemente na Blue Note de Nova Iorque, veio a Vigo pela primeira vez, após várias tentativas ao longo dos últimos anos. Apresentou-se ao público galego, mostrando a nata de uma belíssima formação de jovem talentosos músicos, onde rapidamente se forma uma densidade sonora forte, tonificante. Exploratória quanto baste, a OJM enche qualquer espaço.
Sem grandes floreados ou deambulações, o concerto foi uma mostra da nata portuense.
Kin García
Para terminar a edição do festival na Rua Londres, Kin García apresentou-se em formato trio. Acompanhado por Jacobo de Miguel ao piano e por Noli Torres na bateria. O corunhês veio a Vigo apresentar o mais recente “Xingra coma a área”. Um concerto que brilha pela criação de espaços sonoros próprios, numa atmosfera harmoniosamente rica. Influenciado pelas memórias visuais e sonoras da longa costa norte da península, com a vontade de seguir por um caminho sonoro, trilhado junto ao mar. Kin García fechou com chave de mestre, este Imaxinasons.
Como referi no início do texto, estes foram os concertos que tive oportunidade de assistir. Existiam excelentes propostas desde o Alberto Vilas que abriu o “jazz fóra do lugar”, passando pela pianista Julia Hulsmann, Pablo Sanmamed, Masaa, Roberto Oliveira que esgotou o sala de eventos do MARCO, Frank Gratkowski, o projecto de Pelayo – Frontton, as Treme de Margarida Mariño e Su Garrido Pombo e o último concerto do quarteto de José Nine no bar contrabajo.
Esta edição do Festival marcou um novo rumo. Uma orientação nova. Foi a primeira edição com a Lúcia ao leme do festival. Esperemos pela edição de 2017, cheia de novas e aliciantes propostas, de preferência sem tantos pianistas…
Texto e Fotos de Miguel Estima
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