quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Bons Sons 2010 - Dia 1

Não sei se existe algum ditado popular que refira isto, mas o que sei é que há coisas boas que só vêm de dois em dois anos.
É o caso do Festival Bons Sons que decorre na bonita aldeia de Cem Soldos (a cinco quilómetros de Tomar) e que, em parte, por toda a sua “mão-de-obra” ser quase exclusivamente voluntária, só se pode realizar nesse espaço de tempo.
Além do fantástico ambiente que se vive durante os três dias do festival, a razão principal que leva milhares de pessoas aquele local, é o de se poder desfrutar de alguma da melhor música que se faz em Portugal.
Foi o caso da edição deste ano que tinha um programa excelente que contava com a presença de grandes músicos e em complemento ainda tinha uma mostra de curtas-metragens e documentários.
Musicalmente o Festival decorre em dois palcos, o principal de nome Lopes Graça e o secundário que tem o nome de Giacometti, logo dois nomes que muito contribuíram para a música portuguesa.

A noite começou no palco principal com Princezito que nos trouxe a sua música com um perfume de Cabo Verde que espalhou alegria por toda a aldeia, foi uma bela forma de dar as boas vindas a todos aqueles que iam chegando e de iniciar a viagem musical que íamos fazer durante os três dias.
Terminado este concerto a multidão que não parava de crescer foi até ao segundo palco para ver os Dead Combo, a abertura foi feita com “Sopa de cavalo cansado” e foi dedicada a todos os desempregados.
A música de Tó Trips na guitarra e na percussão, feita com o bater do pé, com algumas pancadas na guitarra ou até a largar moedas nas costas dela e Pedro Gonçalves que acompanha com o contrabaixo, guitarra, melódica ou kazoo, é assim. Por vezes estamos numa cave escura e fumarenta, depois andamos de carro numa estrada deserta no meio do nada, depois podemos estar a relembrar um filme clássico português, como em “Assobio”, mas sempre com algo que nos liga à realidade.
Entre outros temas, ouviu-se ”Rodada”, Nat”, “Eléctrica Cadente” e “Lusitânia Playboys”, música que conta a história de dois músicos de jazz que vão ao Cais do Sodré para arranjar amigas e acabam a noite à pancada como dois marinheiros.
Rock’n’Rol Rádio e uma versão de “Temptation” de Tom Waits, remataram o concerto com os “parabéns à organização pelo grande programação de música portuguesa”.
Com o encore, exigido pelo público completamente rendido, veio “Putos a roubar maçãs” tema que, como referiu Tó Trips, é raro ser tocado e foi com um “obrigado por nos terem aturado e divirtam-se neste bonito festival” que o guitarrista se despediu de todos.
No palco principal já se preparavam para tocar os Diabo a Sete deram mais um belo concerto e puseram toda a gente a “levantar pó”.
Depois de “Abertura” e “Para lá do Marão”, abriram as hostilidades, depois foi com temas como “Valsa da Joana e do João”, “Baile da Meia Volta”, “Dança dos Camafeus”, o tradicional “Chinglindin” e “Abaladiça” fizeram parte da festa e não deixaram ninguém ficar parado.
É bonito ver a força da música de inspiração no tradicional portuguesa e a maneira como os Diabo a Sete provam que este ramo da música portuguesa está vivo, tem público e recomenda-se, a prova disso é que provavelmente no próximo ano vamos ter disco novo do grupo de Coimbra.
Para acabar o primeiro dia de festa, vieram os Melech Mechaya que trouxeram o Klezmer e, como se costuma dizer, “partiram a loiça toda”.
A interactividade com o público e os ritmos frenéticos, são uma constante nos seus concertos. Ao terceiro ou quarto tema já estavam a chamar membros do público para o palco para dançarem e “ensinarem” uma coreografia aos restantes. Canções como “Budja Ba”, “Freylach 6.8”, “Dança Do Desprazer” e o inevitável “Miserlou” fizeram parte da festa que deixou todos a dançar e a saltar do princípio ao fim.
Acabou assim “em grande” uma noite de concertos cheios de boa música e diversidade que não precisavam, a meu ver, da “animação” de DJ a partir das três da manhã.

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